Um ano bastou para provar que a estratégia política que venceu o último congresso da JS é uma gigante falácia. Baseada na convicção de que o Bloco de Esquerda havia ocupado o espaço de intervenção da JS, a orientação estratégica, preconizada pelo actual Secretário-geral, assumia como grande desígnio impedir o crescimento do Bloco de Esquerda ajudando desse modo o PS na defesa do seu eleitorado mais à esquerda.
E o que mudava na JS? O regresso das “fracturantes” em força, proclamação de uma “JS mais à esquerda”, uma “JS mais radical”, ou mais recentemente no Jovem Socialista, uma JS que seja a “Esquerda dentro da Esquerda”. Todos nos recordamos de ouvir o candidato Pedro Nuno a defender as virtudes do modo de fazer política do BE. Todos percebemos que a lógica seria copiar o BE e garantir desta feita o voto mais à esquerda para o PS.
Não desconfio das melhores intenções desta posição, mas considero-a um erro incompatível com a dimensão e história da JS, e muita gente, que podia não concordar com esta visão, também já percebeu isso. Em 30 anos de história não precisámos de imitar alguém, nunca fomos a reboque de ninguém, jamais condicionámos o nosso espaço político de acordo com a agenda política de outros ou em troca de mediatismo fácil. E isso não nos impediu de ser uma organização política de vanguarda ao longo de várias gerações, que fala para todos os jovens e para o país, e não só para nichos eleitorais.
Se a JS se aproxima do BE quem se está a favorecer é um partido minoritário de extrema-esquerda que ganha assim um aliado. Acho aceitável que membros da ATTAC defendam na JS a Taxa Tobin ou o não ao tratado constitucional europeu, mas, ao contrário, considero impensável poder sequer admitir-se que é possível seguir uma ideologia como quem está no BE e estar de facto na JS. Ainda para mais, quem pode acreditar que haja alguém a deixar de votar no BE e nas suas propostas para votar no PS porque está lá a JS com as mesmas ideias?
Sei que há caminhos alternativos e não vou desistir deles. Acredito demasiado no valor de muitos camaradas que em todo o país, por todas as Federações, trabalham e dão a cara, com coragem, audácia e determinação em nome da JS e do PS, como acontecerá nas próximas eleições autárquicas. A mim, como a todos eles, não assustam os recados e insinuações despropositadas, como no último Jovem Socialista, de quem tem responsabilidades na organização, tentando impor uma lógica de pensamento único. A JS é e será sempre uma organização livre e democrática que não se compadece com o discurso confrangedor e maniqueísta de “bons e maus”. A grande riqueza da política está nas ideias, no debate, na diferença de pensamento. Seguramente foram essas diferenças que justificaram há um ano atrás, quando a JS liderada por Jamila Madeira recolhia assinaturas para uma petição à Assembleia da República, que alguns camaradas preferissem recolher assinaturas ao lado de Miguel Portas ou de Luís Fazenda para a realização de um referendo sobre o mesmo assunto. Seguramente foram essas diferenças que sustentaram as candidaturas de tanta gente com valor como João Catarino, Rui Costa, Ana Catarina e Filipe Costa. Seguramente foi em nome dessas diferenças que tivemos 4 candidatos no último congresso. Ou não?
E bem podem tentar, passando por cima de princípios elementares e através de artifícios formais com o rótulo de “reformas estruturantes”, moldar a estrutura de acordo com as próprias conveniências, pois na verdade todos sabemos que apesar disso “não há machado que corte a raiz ao pensamento”.
Pedro Almeida
Militante 43912 - JS / FAUL