5.11.04

Os Contraditórios

Desde os longínquos mandatos de Ramalho Eanes que não conhecíamos um Governo de «iniciativa» Presidencial, mas infelizmente o Dr. Jorge Sampaio resolveu brindar-nos com este «presente» e ao final destes escassos três meses torna-se insistente a pergunta: Até Quando?

Tantos são os caos diariamente protagonizados, directa ou indirectamente pelos Ministros deste (des)Governo que se torna árdua a tarefa do «contraditório» (tão apregoada e defendida pela coligação PSD/PP).Mas quanto ao contraditório, essa tarefa é-nos altamente facilitada, afinal, em cada proposta, opinião ou definição estratégica tornada pública por um qualquer Ministro, logo surge o «contraditório» por parte de um outro membro deste (des)Governo.Mas vamos a alguns factos!O Ministro do Ambiente, cuja sua indigitação causou grande polémica, decidiu anunciar um minucioso plano de demolição de casas na Arrábida...tão minucioso que, ao que parece, há pelo menos uma casa (polémica) que ficará tal como está, mesmo que a braços com o seu licenciamento (polémico, por sinal), que pertence exactamente a Nobre Guedes (Ministro do Ambiente, o Próprio!).O Ministro de Estado, da Defesa e Assuntos do Mar (coisa que o próprio desconhecia na tomada de posse), também já deu o seu fabuloso contributo...colocou uma fragata da Armada Portuguesa (F486) para nos defender do Borndiep (o designado barco do aborto). Aliás motivo de «chacota» nalguma imprensa estrangeira...F486 contra a RU486 (nome pelo qual é conhecida a pílula abortiva)!E como se isto não fosse façanha pouca, depois do fim do SMO (Serviço Militar Obrigatório) continua a defender e a exigir a presença obrigatória de cidadãos Portugueses, de ambos os sexos, sob convocatória do seu Ministério no dia da Defesa Nacional!Um só comentário me assola, o Sr. Ministro pretende vassalagem á força!A Ministra da Educação, por sua vez, trocou os computadores pelas mãos, depois de um inicio de ano lectivo desastroso e cujos reflexos se fazem ainda sentir em muitas escolas deste País. Alunos sem Professores, Professores sem escola!Uma Ministra claramente impreparada para a pasta.O agora Ministro das Finanças, responsável pela pasta da Segurança Social nos tempos de Durão Barroso, onde deu inicio á sua privatização, anunciou um Orçamento de Estado que viola o pacto de estabilidade, mesmo assumindo premissas macroeconómicas totalmente descabidas (desde o crescimento do PIB, ao preço do petróleo e da incontornável inflação). Inicialmente surgiu afirmando ser impossível uma baixa de impostos, o que aliás, foi contrariado posteriormente pelo Primeiro-ministro (mais uma vez o «contraditório» a funcionar). Contudo, lá arranjou um subterfúgio para satisfazer os anseios populistas de Portas e eleitoralistas de Santana Lopes, anunciando uma baixa no IRS das classes médias á custa de cortes nos benefícios fiscais sobre planos de poupança (PPR,PPH, etc.)...será que haverá benefícios?...Não acredito!Morais Sarmento, elevado a respeitável Ministro da Presidência, veio a terreno defender que a RTP, responsável até agora pelo serviço Público de Televisão em Portugal, deveria ter limitada a sua autonomia pelo próprio Governo. O mesmo é dizer que a RTP passará a ser o órgão de Comunicação Social (ou seja Propaganda) do Governo!Todo este cenário, entre criticas a comentadores televisivos, e entre a nomeação do pseudo-comentador, profissional defensor do Governo, Luís Delgado, actual administrador da Agência Lusa e recém-nomeado administrador do Grupo Lusomundo que controla entre outros o Diário de Noticias!Por outro lado, surge o Ministro Gomes da Silva (de duvidosa qualidade e capacidade), um dos homens «fortes» de Santana Lopes.Quanto á sua actuação enquanto Ministro pouco ou nada se lhe conhece, excepto...as suas irresponsáveis declarações, enquanto «Poder Pressionante» a propósito do comentador Marcelo Rebelo de Sousa.Relativamente a este caso, muito se poderá especular. A forma como foram produzidas as afirmações, o desenrolar dos acontecimentos sob um efeito cascata (catastrófico para a credibilidade do (des)Governo ), etc..Contudo, o «moral da estória», ou a falta dele, não pode ser contornado. Houve efectivamente, nas declarações do Ministro uma clara intenção de pressionar, quer o comentador, quer a própria estação televisiva em causa. Se a estas declarações se seguiram outros processos de pressão, ainda mais directa, nunca o saberemos…No entanto, quer pelo teor das declarações, quer pela defesa intempestiva (digo eu) a que o próprio Primeiro Ministro se prontificou, na defesa do «contraditório», foram um claro sinal de degradação e desorientação do Governo, que sem «armas» nem ideias politicas, tenta agora, paulatinamente influenciar a Comunicação Social.Lamentável e vergonhoso, num estado de direito, onde deveria funcionar, em pleno a separação de poderes! E lamentável se torna, a manutenção inexplicável, de Gomes da Silva enquanto Ministro.Poderia, ainda abordar muitas outras situações e exemplos concretos, nestes exagerados 100 dias de confusão (des)Governamental...Mas ficarei por aqui, na esperança que a famosa Central de Informação do Governo, sirva pelo menos para que haja coordenação e capacidade de inibir os «contraditórios», onde não podem nem devem existir, no interior do Governo.O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, diz o povo e com razão! Cabe ao Primeiro Ministro o «contraditório» desta frase popular, mas para isso não basta ler as estrelas e assumir, como diria Durão Barroso noutros tempos, o papel mesclado de «Zandinga com Gabriel Alves»!Esperemos que o rumo mude, e depressa, pois não podemos viver com esta inabilidade, geradora de confusões! Se isso não acontecer, só haverá uma explicação: Santana Lopes quer ser rapidamente demitido pelo Presidente da República e compreendeu finalmente que levar o barco a bom porto, é pessoalmente inédito e colectivamente insustentável.

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