24.9.04

Mediatismo como necessidade de afirmaçao

Diariamente somos bombardeados por anúncios que representam uma boa parte da publicidade que é feita a todo o tipo de bens e serviços. A sua existência constitui o princípio de uma grande revolução que se dá na actual sociedade. Quando olhamos para esses cartazes vemos caras, modelos fotográficos, ou não, actores, ou não, talvez mais gente que procura a todo o custo ser alguém na sociedade. Pois é, já todos reparamos que, hoje em dia, é-se reconhecido não pelo bom ou mau trabalho que se faz, mas por se aparecer. Não interessa se se está a estudar medicina, por exemplo, mas sim se aparece na televisão, nas revistas, não se conhece nos dias de hoje um só adolescente, que não sonhe com o mundo da TV, do espectáculo, das revistas cor-de-rosa.
Não tenho nada contra quem anseia essa fama, se for pelo reconhecimento de um trabalho esforçado. Eu próprio conheço alguns exemplos bem sucedidos.
Pelo contrário condeno a conquista da fama e do mediatismo como forma de afirmação pessoal e social. Infelizmente é essa necessidade de afirmação que governa o país. O actual Primeiro-Ministro e o seu governo. Não há evento cultural ou desportivo que não conte com a participação especial de algum deles. Lembro-me, por exemplo, de uma noticia de abertura de jornal "Santana Lopes assiste ao concerto de Madona", ou de "Ministro do Turismo, anda de mota com um campeão de Motociclismo". Nada tenho contra que o 1º Ministro goste da Madona, mas isso não é certamente, uma notícia de abertura de jornal representativa da actividade do governo. Trata-se da afirmação do próprio governo.
A necessidade mediática de Santana Lopes já nos é bem cara, quem não se lembra dos cartazes da capital que faziam lembrar constantemente novas obras, ou pediam desculpa pelas obras na Rua da Madalena, é "para a rua ficar ainda mais bonita". Curioso é que nessa mesma rua apenas as fachadas foram arranjadas, o interior continua degradante. Afinal todos, a certa altura da nossa vida, usámos Clerasil?
Claro que as frequentes aparências nas revistas cor-de-rosa fazem ganhar eleições. Daí que o Santana não dispense de uma boa noitada, principalmente se tiver lá a Lux, a Flash e a Caras. Isto faz-me lembrar a famosa frase "falem bem, falem mal, não interessa, é preciso é que falem".
O mediatismo de Santana Lopes é barato, é rasca, é populista, em nada contribui para a credibilização do sistema político.

Mas os Media existem, é um mal, ou um bem necessário. Importa reconhecer o seu poder, a sua capacidade que tem de sugestão, a credibilidade que provoca na sociedade.
Fenómenos como os reality shows que se têm vindo a suceder de há dois a três anos a esta parte comprovam a teoria de que é mais importante aparecer-se porque se está "barricado" numa casa com câmaras em todo o lado, e microfones debaixo dos lençóis, do que se ser um bom profissional. Santana Lopes é exímio em promover a sua imagem através das revistas, das festas mais badaladas, de todos os meios de comunicação, mas é um péssimo governante.

Com este cenário importa jogar com a mesmas peças, mas de forma consciente, ponderada e coerente. Será possível jogar Xadrez com peças de Damas? Podemos jogar Xadrez no computador, no nível mais facil e publicitar as frequentes vitórias. Por outro lado podemos jogar com um adversário experiente e sermos reconhecidos porque ganhámos a um bom jogador. Com a política passa-se o mesmo. O nosso opositor é indubitavelmente a direita unida, e uma vez que jogam com mediatismo nós temos que aceitar as regras do jogo e enfrentar o adversário.

Falta eleger o jogador. Três perfilaram-se, mas um é sem duvida alguma o melhor a lidar com os media. Não se trata de expressão oral, ou de capacidade de esgrimir os melhores argumentos. Quem melhor conhece Santana Lopes, e o terreno que pisa do que o Eng. José Sócrates. Ninguém perdia os, apelidados "Marretas", aos Domingos à noite. A diferença é notória e estrutural, caracteriza-se pela noção de responsabilização que cada um tinha na altura e tem agora. Enquanto o Eng. Sócrates se preparava para o debate, procurando documentar-se o melhor possível, o outro limitava-se a rebater ou a salientar de memória os aspectos que considera relevantes. Não digo que eram debates fáceis, muito pelo contrário eram métodos diferentes, e ambos sabiam o terreno que pisavam. Daí que neste momento e dado o cenário apresentado Sócrates seja o melhor para combater a direita unida, protagonizada por Santana, além de outras muitas qualidades que fazem de si o melhor candidato a S.G. Limito-me a analisar o melhor perfil, uma vez que é essa a primeira questão que se coloca. Quem tem o melhor perfil?

Todos sabemos que a comunicação social tem uma grande influência na sociedade, ela existe e é sem dúvida uma ferramenta de promoção. Mas a promoção deve ser feita com a consciência de que ser está a influenciar alguém, de que há sempre um receptor, nem que seja somente um, caso contrário não se trataria de comunicação, esse receptor ouve e interpreta a mensagem. A mensagem deve traduzir um bom trabalho, uma atitude perante a sociedade. Não interessa aparecer apenas para aparecer, mas sim, aparecer porque se propõe algo de realmente importante e revolucionário.
Não interessa aparecer em todos os jornais porque se é problemático, porque se fala em questões que se sabe que vão aparecer. Apenas questões fracturantes não são o suficiente para conquistar mais eleitorado, não necessariamente só mais militantes.
É dever de uma estrutura como a nossa construir o seu próprio modo de agir e contribuir com o crescimento de uma sociedade mais justa e democrática. Não é a réplica de outras estruturas, aparentemente mais atraentes, que faz de nós melhores e politicamente mais atraentes. É, pelo contrário, a autenticidade que leva a essa conquista.

1 comentário:

Bruno Veloso disse...

Parabéns por este teu post...gostei do que li, apreciei o estilo ligeiro de uma reflexão tão actual como importante.
Um abraço e espero por mais
:)