7.10.04

Peço desculpa... Não sou do PSD!

Numa semana que se revelou negra para o actual Governo e para a sociedade portuguesa tenho de exprimir alguns dos meus pensamentos relativamente ao que se tem passado.

Tudo começou quando um ministro veio a terreiro comentar um comentador político da nossa praça, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Compreendo que as palavras proferidas pelo comentador em questão nem sempre agradem ao actual Governo e aos partidos que o sustentam. Aceitaria a crítica de um membro dos órgãos do partido visado, uma vez que o comentador é militante, já foi líder do partido e poderia estar a colocar em causa o seu mesmo partido. No entanto, apesar de aceitar que alguém do partido viesse a terreiro nunca concordei nem concordo com esta forma de fazer política. Sou um defensor da livre opinião e do direito de divulgação da mesma. Mesmo sendo militante de um partido político, ninguém deve ver coarctados os seus direitos enquanto cidadão!

Dias depois surge uma notícia que revela o número de nomeações feitas pelo actual executivo governamental. Mais uma pérola deste Governo. Segundo informações da comunicação social obtidas através dos nomes publicados em Diário da República, o nosso Primeiro Ministro nomeou em cerca de metade do tempo tantos funcionários como o seu antecessor Dr. Durão Barroso. Um ritmo, sem a mínima dúvida, muito mais veloz! Segundo os mesmos órgãos de comunicação social as nomeações não vão parar por aqui. Ainda há ministros e secretários de Estado que "ainda não nomearam qualquer assessor/colaborador/consultor, administrativos e motoristas".

Quando se fala em contenção orçamental, apertar do cinto e em discursos da tanga é um insulto ao comum dos portugueses apresentar com este apetite voraz um tal número de nomeações, reformas milionárias para gestores com pouco mais de um ano em funções e uma aptidão para fazer política através da comunicação social. O actual governo tem abusado dos tiques do actual líder que tanto gostou e gosta de aparecer numa boa fotografia e a dar os seus palpites. Esta tem sido a forma de fazer política do actual Governo. Fala em taxas moderadoras indexadas ao IRS e seguidamente vai ponderar sobre a matéria e como implementar este novo modelo, na minha modesta opinião socialmente injusto e inconstitucional. Fala em portagens nas SCUT`s e depois já admite pensar sobre o assunto ao abrigo da criação de excepções para algumas delas, como é o caso da Via do Infante no Algarve. Fala em produtividade e resolve dar uma ponte. E assim sucessivamente... Por favor! Pensem antes de falar!

Mas a semana não se ficou por aqui! Como consequência das palavras proferidas por um ministro e alegadas pressões sobre órgão de comunicação social, o Prof. Marcelo deixou de fazer comentários políticos no canal televisivo que lhe deu tempo de antena ao longo dos últimos tempos. Confesso ser um ouvinte e telespectador atento do comentador em questão, já desde os tempos das notas de 0 a 20 na TSF. Nem sempre concordei com ele mas é sempre um prazer ouvir alguém que tem pensamento próprio. Alguém que não absorve o argumentário do seu partido como se de uma injecção se trate e que nos deixe anestesiados. Faz comentário político sem amarras ideológicas e sem o objectivo de agradar a determinados senhores do poder. Esta é também a minha forma de estar na política.

Já não sei que Portugal é este. Não foi por este Portugal que os meus pais e milhares de portugueses lutaram! Os episódios dos últimos dias recuam-nos aos piores tempos da nossa história recente. No passado dia 14 de Setembro, salvo erro, Luís Delgado, actual administrador delegado da agência Lusa, era avançado como o próximo presidente da comissão executiva da Lusomundo Media - o grupo editorial da Portugal Telecom (PT), responsável por títulos como o 'Diário de Notícias', Jornal de Notícias' e '24 Horas', entre outros. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa é a última vítima. Apesar de ser militante confesso do PSD, o Professor não foi seguidista, um qualquer membro de um rebanho comandado pelo Pastor Santana.

O que pensará o Presidente da República de tudo isto? Será que sente um pouco de responsabilidade pelo estado a que chegou Portugal? Confesso que fui a favor de eleições antecipadas. Devo acrescentar que era bem possível que o PSD voltasse a vencer as eleições. Julgo que a decisão do Presidente da República foi uma má decisão para o País. No entanto, foi uma boa decisão para o PS. Fruto dessa tormenta, o PS avançou para um Congresso e legitimou um líder, Engº José Sócrates, para os próximos combates.

Sinto-me envergonhado com o panorama actual! Se membros do Governo, membros de um partido político são capazes de fazer isto a um militante do mesmo partido... Do que serão capazes de fazer a alguém que nem sequer é militante do partido do poder? Peço desculpa... Não sou do PSD! Estou disposto a arcar com as consequências. Não posso calar-me, não posso dizer que sim, não posso ausentar-me. Tomar o partido da liberdade é ser contemporâneo do futuro. Temos de afirmar com clareza a nossa personalidade, temos de ser nós próprios, temos de usar o nosso pensamento e não nos deixar-mos manipular por quem quer que seja. Lutarei sempre pelos ideais que perfilho, sem nunca me votar ao silêncio educado para o conformismo! Os princípios pelos quais me faço reger, obrigam-me ao constante inconformismo, ao espírito crítico e à liberdade de pensamento. Estejamos preparados para o que ainda está para vir, já que a desvergonha não conhece limites.

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